sábado, 16 de abril de 2016

Just Paradise?

Iniciamos uma viagem de quatro meses em família. Vamos viver cerca de três meses em comunidades no sul da Bahia e depois seguimos pra Alto Paraíso. Saímos com um dia de atraso em razão da dificuldade de organizar as coisas e guardar o que ficaria, liberando nossa casa pra uma outra família durante esse período.

Tiramos a primeira semana para, devagar, subir para o nordeste brasileiro. Ficamos dois dias em Milho Verde, Minas Gerais, e dois dias em Diamantina, na casa de amigos. Nos demais viajamos e dormimos em cidades pelo caminho.

A viagem foi nada menos do que uma amostra do que somos. Havia essa ânsia de chegar, o que contribui para uma certa alienação, distância do que somos, do presente. Há um porvir, algo a esperar por, um lugar para ancorar.

Então chegamos. Numa casa linda, relativamente pequena, com um jardim grande cheio de coqueiros cheios de coco. E o mar. O mar ali em frente, azul, quente, raso. A areia macia. A maresia. A brisa constante. Tudo perfeito. Só que não.

Angustia. Insatisfação. Mal humor. Tudo isso passados os primeiros momentos iniciais de prazer, contentamento, alegria. Por que?

Medo. Insegurança. Um não saber o que fazer. Só no terceiro dia eu e Tiago conseguimos ir à praia juntos. Até então nos revezávamos porque eu tinha pressa de guardar as coisas, tirar as roupas das malas, me instalar. E isso tinha que ser feito rápido, perfeito.

Também havia a pressa de organizar a casa, entende-la. Organizar a rotina, cria-la. E um tédio nos momentos muito quentes em que não dá pra ir pro mar. Como lidar com esse vazio tão buscado?

E cozinhar. E comprar a comida. E saber onde ficam as coisas nesse novo lugar. Enfim, de novo num lugar de ansiedade, de estar fora do presente, de muitas expectativas, de dificuldade de apenas estar, curtir, não fazer nada, não se cobrar, não cobrar o outro, não esperar.

Depois de alguns sinais, um torcicolo que me travou o dia todo. Nada que eu possa fazer a não ser esperar, ser cuidada, cuidar de mim, aceitar que não consigo controlar tudo, dar conta de tudo, atingir a perfeição ilusória que me impus.

Há aqui um condomínio de alemães chamado “Just Paradise”. Aqui é só um lugar. Não há paraíso. Há um estar conectado, presente, sem expectativas e ilusões. Esses sentimentos, humores e tensões físicas estão aí pra me lembrar de como é difícil apenas ser.

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