Todos
passamos por mudanças. Quero falar das mudanças profissionais que
vivi. Escolhi a faculdade de direito para adiar a escolha da
profissão, pois ela me abria muitas portas no futuro. Na faculdade
não tinha ideia do que queria fazer e me admirava com as certezas e
objetivos de muitos colegas. Fui parar em um escritório de advocacia
de médio porte mas com grandes pretensões.
Estava
no 4o ano de faculdade, cheia de energia, tempo e
disponibilidade. Me destaquei, me entreguei, me alienei ali. Apesar
de militar no movimento estudantil, não tinha discernimento para
perceber onde havia me metido, a quem servia dentro da advocacia
empresarial. Só conseguia ver meus êxitos profissionais, aumento de
poder, independência financeira. Mas isso nada tinha a ver com minha
essência. Era mais uma agressão e uma negação. Tive labirintite
crônica e, por fim, depressão. Algo em mim pulsava, batia, queria
explodir. Então bolei um plano e saí dali após sete anos de
dedicação e o convite para me tornar sócia. Mas para onde ir?
Bati
a cabeça, abri meu escritório, que nada mais era do que repetir um
modelo no qual eu não acreditava. Mas eu não sabia. Meu objetivo
era me sustentar, ganhar dinheiro, estar no mercado, me destacar
profissionalmente. Que sabia eu do mundo? Que sabia eu de mim? E essa
sociedade também naufragou.
Fui
trabalhar em uma ONG de defesa do consumidor e dar aulas. Estava mais
próxima de mim, de satisfazer outras necessidades como fazer o bem,
trabalhar em algo em que acreditava, trocar com pessoas que lutavam
por um mundo melhor, mais justo. Pude ver e atuar a partir de um
outro paradigma, muito diferente daquele em que estava inserida até
então. Mas aqui também havia muito trabalho e muita alienação,
muito tempo dedicado a coisas pouco prazerosas, aborrecidas até.
Então busquei uma fuga num mestrado fora do Brasil.
Fui
estudar outra área - política social e desenvolvimento -,
aperfeiçoar o inglês, mudar de realidade. Mais um novo mundo se
abria. Saí da “caixinha” do direito, deixei de ver o mundo a
partir dele. Voltei para trabalhar em outra ONG, com políticas
públicas, advocacy, defender
a saúde, firmar parcerias com pessoas e instituições que também
queriam
mudar o mundo, o sistema. Brigar por grandes ideais, ouvir novas
ideias, formar redes, repensar o planeta, o Brasil, a minha casa, a
minha vida. Trabalhar com pessoas incríveis a partir de um paradigma
oposto ao do primeiro emprego: de confiança no outro, de
responsabilidade, de colaboração, de
cuidado, de companheirismo, de amizade.
Mas
ainda havia uma insatisfação, uma pedra incomodando no sapato, um
certo desprazer em algum ponto. E foi aí que me chegou a
maternidade. E com ela outros contatos, outros saberes, outras
vivências, outras pessoas.
E
como contei em outro post,
não podia mais lutar contra o mundo, contra as injustiças, contra
os poderes instituídos, contra as forças políticas e econômicas.
Não acreditava mais na mudança externa. Era dentro de mim que a
mudança fazia sentido. Era eu que precisava mudar. E era na relação
com meu filho, em cuidá-lo, amá-lo, me dedicar a ele, era aí que
estava a grande revolução. A mudança real do mundo.
Deixei
de acreditar na mudança do sistema a partir do próprio sistema, de
suas armas e seus instrumentos. Acredito na minha mudança, é sobre
ela que posso agir. A partir daí muda-se o mundo, mas é a partir
daí. Essa opção me deixa muita mais próxima da minha essência,
essência essa que tive que dar a “volta ao mundo” para
encontrar, que ainda estou descobrindo, que me custará a vida para
alcançar,
mas que agora está palpável como um objetivo a ser
atingido.
A
maternidade me trouxe essa dimensão do autoconhecimento e são
muitos os caminhos que têm se aberto pra mim. E é maravilhoso estar
viva e poder desfrutar dessa revolução que tenho produzido. É só
o começo do caminho.
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